Racismo em Vicente Pires


Mulher relata injúria racial após negar fazer bufê para festa 'chique' .
     Suspeito foi preso; ele quebrou copos e pratos, além de sujar restaurante.Caso aconteceu no sábado em estabelecimento da rua 5 de Vicente Pires.

A microempresária Carmem dos Santos, que conta ter sofrido injúria racial em Brasília (Foto: Raquel Morais/G1)


"Dona de um pequeno restaurante no Distrito Federal, a ex-doméstica Carmem Célia dos Santos, de 46 anos, conta ter sido vítima de injúria racial no último sábado (18). Um homem entrou no estabelecimento pedindo orçamento para um almoço "chique" para 60 pessoas. Ao ouvir que a microempresária não fazia esse tipo de serviço, ele quebrou pratos, copos, uma garrafa térmica e compartimentos de marmita, além de espalhar sal, azeite e palitos pelo chão.

O homem, que tem 29 anos e carregava uma garrafa de cachaça, foi detido por policiais militares acionados pela microempresária. A injúria aconteceu em um restaurante da rua 5 de Vicente Pires, e o caso foi encaminhado para a 21ª Delegacia de Polícia. A corporação não soube informar o valor da fiança arbitrada, mas o suspeito seguia preso até a noite desta segunda por não ter pago a quantia.

A microempresária diz que nunca havia visto o suspeito antes e que ainda tentou contornar a situação, porque ele parecia bêbado. "Ele quis entrar na cozinha, e eu não deixei. Segurei no braço dele e o levei até a calçada. Quando chegou na calçada, ele disse que eu não podia fazer nada, que ali eu não mandava. Falei que, sim, que não mandava mesmo, mas que na minha cozinha eu mandava."

Segundo ela, o homem chegou a se cortar quando deixou o copo cair no chão. Carmem decidiu recompor os itens e não calcular a extensão do prejuízo, mas afirma ainda não entender o que levou o homem a atacá-la verbalmente.

"O negócio foi a ofensa, o deboche dele. Eu não sei se negro pode ou se não pode ter restaurante, eu sei que eu tenho. Quando falei isso a ele, ele ficou rindo da minha cara. Isso que machuca mais, o deboche dele", diz a mulher.

"Nunca discriminei ninguém, nunca me meti na vida de ninguém, nunca fiz isso com ninguém. Trabalhei muito nas casas dos outros [de doméstica], mas nunca me senti tão ofendida. E isso foi dentro da minha casa, porque eu que pago tudo, todas as contas, então é como se fosse minha casa", completou.

De acordo com o Código Penal, a pena por injúria varia entre 1 e 3 anos de prisão. Se a investigação apontar que houve racismo, a suspeita pode responder pelos crimes previstos na Lei 7.716, de 1989. Há várias penas possíveis, entre elas prisão e multa. O crime de racismo não prescreve e também não dá direito a fiança.

Carmem afirma esperar que a situação não se repita. "Nunca sofri injúria racial antes. Foi a primeira vez e espero que seja a última. Devia não ter mais, porque até o presidente dos Estados Unidos [Barack Obama] é um negro. E ele é um presidente. Não devia ter mais isso não, eu acho que não devia. Nem branco, nem de nada, por motivo algum."


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