Agnelo aumenta secretarias para se blindar

Por Caio Junqueira –

Até 1º de janeiro de 2011, a população do Distrito Federal assistiu a um governador eleito, José Roberto Arruda, e seu vice, Paulo Otávio, serem afastados por suspeita de corrupção. Sucedeu-lhes Roberto Rosso, cuja marca foi o abandono da cidade decorrente da ineficiência administrativa. Agnelo Queiroz (PT) assumiu o Palácio do Buriti em ambiente de alta expectativa de que alterasse essas rotinas que tomaram da capital da República. O novo governador, porém, conseguiu intensificá-las.

O dia-a-dia do seu governo é marcado por denúncias de corrupção, muitas de irregularidades e desmandos da época em que o governador foi ministro do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que atingem diretamente o governador e seus principais auxiliares, boa parte delas incrementadas com fatos controversos que só ampliam a folclórica política local. Na semana passada, o policial João Dias, o mesmo que denunciou a corrupção no Ministério do Esporte (de onde saiu Agnelo), entrou no Buriti com R$ 159 mil em espécie para, segundo ele, devolver parte da propina que recebera do homem-forte do governo, o secretário da Casa Civil, Paulo Tadeu (PT). O dinheiro teria por objetivo dar um “cala-boca” em Dias e impedir que ele denunciasse esquemas de corrupção de Agnelo. Tadeu nega.



Mas não bastassem episódios como esse, faltam investimentos em áreas alardeadas na campanha como prioritárias, o que tem levado à insurreição contra o governador a ampla base do funcionalismo público petista que o ajudou a chegar ao poder. As greves, ou as ameaças de greve, são o tom dessa relação.
A despeito disso, Agnelo e os que o cercam seguem inabaláveis. Em novembro, na comemoração de seu aniversário, atacou a “extrema-direita” pelas críticas e denúncias e comparou-se ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, o fundador da capital.
Brasília, porém, poderia ainda estar em construção se Agnelo estivesse à frente das obras. É o que se constata pela análise da execução orçamentária. Nenhuma das principais secretarias ultrapassou 40% de recursos liquidados este ano, de acordo com dados do Sistema de Gerenciamento Orçamentário extraídos em 9 de dezembro pela equipe técnica da deputada oposicionista Celina Leão (PSD). Obras, por exemplo, teve 23% dos recursos liquidados, deixando em seu caixa disponíveis R$ 744,9 milhões. Em Transportes o desempenho foi pior; apenas 12% do R$ 1,1 bilhão de investimentos foi liquidado. Áreas tidas como prioritárias, saúde e educação, seguem o mesmo perfil. Em geral, a taxa da execução orçamentária de investimentos ficou em 16%.



Em contrapartida, o volume total de recursos -dispêndios com pessoal, custeio e investimentos-, destinados às Pastas ligadas à comunicação e publicidade foi, respectivamente, de 91% e 61%. Algo que se confirma na avalanche de propaganda que o brasiliense se acostumou a ver desde o início de ano em horários nobres do rádio e da TV.
À baixa execução soma-se o inchaço da máquina pública. Nem bem tomou posse, Agnelo aumentou o número de secretarias. São 33, só cinco a menos do que os 38 ministérios da União, mas 13 a mais do que do ex-governador Rosso e 18 a mais do que Arruda. São Paulo, com população quinze vezes maior, tem 26. Bahia, para ficar em um Estado também sob comando do PT, tem 28 e população cinco vezes maior.
Em Brasília há Pastas para todos os gostos. Há uma Secretaria da Criança, uma da Juventude, outra do Idoso e, caso não se encaixe em nenhuma delas, uma da Mulher. Também são contempladas as Secretarias do Entorno; Micro e Pequena Empresa; Ordem Pública e Social; Promoção da Igualdade Social; e Transparência e Controle. O inchaço da máquina também é constatado em números. Gastos com pessoal cresceram 17% em 2011 e aumentarão mais 17% em 2012. O governo, porém, justifica-se dizendo que o custeio, que crescera 10% em 2011, diminuirá 9% em 2012.



Esses valores são apenas o viés financeiro do inchaço da máquina pública do “GDF”, o jargão local. Isso porque é no viés político que o crescimento se explica. Agnelo, com o PMDB na chapa, possui treze partidos na base, que vão desde os tradicionais aliados PCdoB e PSB até a “direita” que ele tanto combate, caso do PTB e do PP. Até o rival Democratas tem o comando de uma administração regional.
E é justamente para abrigar todo esse mosaico que ele ampliou seus espaços. Com isso, só tem a ganhar. O exemplo mais vistoso disso é que consegue impedir que qualquer pedido de investigação contra si avance na Câmara Legislativa, onde apenas três dos 24 deputados fazem oposição. E a omissão legislativa quanto à gestão, garante na cidade evidente piora da situação da segurança, limpeza pública e saúde. Essa maioria folgada também o ajuda a acomodar os focos de crise que surgem. Já foram sete substituições no primeiro escalão.
Até o presidente do Banco de Brasília foi substituído. Saiu Edvaldo Magalhães, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, para a entrada do ex-funcionário do Banco do Brasil Jacques Pena, ligado ao ex-ministro José Dirceu. Dias depois da troca Dirceu virou voz ativa na defesa de Agnelo.



Ocorre que essa ampla base de apoio, se por um lado lhe garante blindagem, por outro tem incomodado tanto a base petista do Distrito Federal quanto antigos aliados. O PDT já se declarou independente e o PSB, cujo espaço foi diminuído, já ensaia voo solo em 2014, com o senador Rodrigo Rollemberg (DF).
Os sindicatos já declararam guerra. “Nós petistas ainda não vimos o governo do PT. Todo mundo aqui é governo, menos quem construiu o partido”, afirmou ao Valor Marli Rodrigues, diretora do sindicato dos servidores da saúde. Sua crítica se dirige à política de terceirização do setor. Na greve de julho, o governador determinou o corte de ponto dos faltosos. “O governador usou o sindicato para se eleger e agora se volta contra ele”, conclui. Queixa semelhante tem os sindicatos de professores e policiais civis.



Já se fala, sob reserva, em possível dissidência interna petista se as denúncias contra Agnelo ganharem corpo ou mesmo se o inquérito que corre no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ganhar força. Ele é investigado por irregularidades no período em que era ministro do Esporte.
A revolta se dá principalmente pelo fato de Agnelo ter eleito como prioridade os eventos esportivos que Brasília sediará, como a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014), e a Copa América (2015), além de, eventualmente, algum jogo da Olimpíada do Rio em 2016. Tanto que o principal projeto aprovado na Câmara Legislativa foi o que reestrutura a organização administrativa e financeira da Companhia Imobiliária (Terracap). O objetivo é capitalizá-la e transformá-la numa agência de desenvolvimento. Será a responsável por todas as obras no vazio imobiliário do entorno do Estádio Nacional.

Fonte: Valor Econômico

Comentários

  1. Ele acha que com secretárias irá se manter no governo, acho que infelizmente não. Agora Arruda fez muito mais coisa com menos secretárias e fez um excelente governo.

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